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O machismo também afeta os machos

maio 28, 2020

“O machismo é como a água do mar numa praia qualquer onde se banha a sociedade. Uns estão molhando apenas os pés, outros já têm água pelos joelhos, outros estão imersos até os ombros e existem ainda aqueles que estão se afogando.”

Vivemos em uma sociedade com pensamento e costume machistas porque desde o princípio a civilização foi organizada e doutrinada por homens. A figura masculina sempre foi vinculada à força, virilidade, inteligência e a outros atributos, mas também a defeitos que eram e ainda são considerados como características virtuosas que fortalecem a “identidade” deste gênero.

O machismo afeta o homem, o macho, sabe. “Homem não chora”, “homem não pode ser tímido”, “homem tem que ser forte”, “homem cospe no chão e coça o saco”, “homem tem que falar grosso”, “homem tem que ter calo na mão”, “homem não apanha”, “homem que é homem não tem vaidade”, “homem tem que ser pegador”… Quem nunca ouviu essas frases? Pois é, é imposto ao homem uma série de estereótipos e protocolos pra que ele seja valorizado e reconhecido como homem pelas pessoas, não basta ter nascido e se identificar com o gênero masculino. Se por acaso, o ser humano nascido num corpo do sexo masculino e que se se sente bem assim, não seguir todos esses tabus, protocolos, estereótipos e seja lá como mais quiserem chamar, ele é comparado à mulher e vira motivo de chacota. Se o cara é educado demais é “mariquinha”, se gosta de se cuidar e é vaidoso é “mulherzinha”, se ele tem sensibilidade e aptidão para as artes é uma “moça”, se ele tem mais habilidade no campo das ciências humanas do que das exatas ele é uma “donzelinha” e por aí vai, sempre ofendido com termos femininos porque a mulher é inferiorizada pela sociedade machista.  A mulher é tida como frágil em relação ao homem, ela é inferiorizada simplesmente por não ser homem. Mas hoje em dia tem muita mulher dando um verdadeiro show na macharada. Grande parte das mulheres cisgêneras menstruam todos os meses e sentem terríveis dores das cólicas menstruais. Elas sabem que em certo período de cada mês isso vai acontecer, mas nem por isso podem se ausentar do trabalho secular e do trabalho doméstico (casa, filhos e afins). Durante nove meses da gravidez muitas também sentem-se mal e dizem que a dor do parto natural é como a dor de mais de vinte ossos se quebrando ao mesmo tempo, contudo elas dão conta e até se animam a gerar mais filhos: homens e mulheres.

As mulheres estão estudando mais, têm uma jornada de trabalho igual ou superior à dos homens e os afazeres domésticos, bem como a educação de crianças não são mais feitos só por elas. Na verdade, serviços domésticos e educação de filhos nunca foi uma tarefa só das mulheres porque o processo da reprodução humana depende também dos homens, a mãe de família não vive sozinha numa casa, não suja todas as louças e roupas, portanto a responsabilidade com tudo isso não deve ser entregue somente a ela. O machismo impõe ao homem cargas que ele não precisa carregar sozinho e, na tentativa de fazer isso, quando ele falha se sente indigno, se culpa e pode até chegar a questionar sua identidade. Hoje em dia, por exemplo, a mulher trabalha fora porque seu salário contribui para o orçamento familiar, o que por anos era considerado como obrigação do homem. Há casos também em que a mulher tem um salário superior ao do marido e, isso ainda é motivo de preconceito pra muita gente, sobretudo para gente machista.

O mundo mudou e os pensamentos e costumes também precisam se adequar à nova realidade. A força que faz a máquina da vida funcionar nem sempre é física, mas é o poder do conhecimento, da sabedoria, da renovação das nossas mentes. Não existe uma receita para a perfeição. Não existe essa coisa de quem é melhor, quem é mais forte. Não existem super-heróis e ninguém é inabalável e tampouco resiste a tudo. Cada um é único, cada um tem características que o compõe como ser e assim todos cooperam para a continuação da vida. Sem as diferenças, sem os homens, sem as mulheres, sem os antônimos e os sinônimos nós não saberíamos distinguir as coisas e nem sequer saberíamos experimentar a sensação de cada situação da vida humana. O homem e a mulher são coexistentes nesse planeta, se não fosse pelos dois juntos ninguém existiria e nenhum deve levar sozinho mérito algum. Essa discussão está longe de acabar, mas acredito muito que é possível chegarmos a um consenso pacífico onde ninguém será melhor que ninguém e será entendido que homens e mulheres são igualmente essenciais para tudo nessa vida.

Esse texto foi escrito com colaboração de uma antiga amiga chamada Ingrid Queiroz, a quem agradeço pela paciência e inteligência.

Um comentário

  1. Mano, q texto foda!



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